Microcosmos
Microcosmos
levou 15 anos para ser produzido e teve uma montagem primorosa
Ernesto Barros
Especial para o DIÁRIO
Não é
só a parceria com a televisão que tem colocado o
documentário em evidência nos anos 90. A experimentação
técnica também tem uma parcela de crédito
importante para o gênero que nasceu com o cinema e ainda
hoje vive em pleno apogeu. As locadoras, nos últimos meses,
receberam filmes magníficos como Quando Éramos Reis
e Basquete Blues. A trinca dos três melhores documentários
dos últimos anos é completada com o fascinante Microcosmos
- Fantástica Aventura da Natureza, um verdadeiro marco
na arte de ver o mundo que nos rodeia.
Para ser filmado, foram
desenvolvidas lentes especiais para captar detalhes que o olho
humano jamais conseguiria. Cinema e pesquisa ao mesmo tempo, o
documentário dos biólogos e cineastas Claude Nuridsany
e Marie Perrenou tomou 15 anos da vida do casal. Eles se armaram
de paciência chinesa para transformar a idéia em
filme. Durante dois anos, acompanharam a criação
de delicados e revolucionários equipamentos fotográficos.
Depois, passaram três anos de filmagens e seis meses de
edição.
Para realizar Microcosmos,
Claude Nuridsany e Marie Perrenou contaram com os préstimos
do produtor e ator Jacques Perrin (Z, Dois Destinos e Cinema Paradiso).
O início lembra um pouco uma das primeiras seqüências
de Veludo Azul, quando a câmera entra chão adentro.
Como naquele trecho do filme de David Lynch, temos também
aqui, a partir de sons e imagens ampliadas, a descoberta de um
mundo quase desconhecido.
Os cineastas manipulam,
amplificam e teatralizam o espetáculo da natureza. Através
de uma montagem meticulosa e difícil - usaram l80 mil metros
de película para chegar a 75 minutos -, o filme quer alterar
a nossa compreensão da realidade. Nuridsany e Perrenou
vêem a natureza de maneira quase realista: do particular
para o geral, como ensinaram os mestres Roberto Rossellini e Vittorio
De Sica.
Os cineastas-biólogos
querem mostrar também o que eles chamam de "planeta sob
o planeta". As lentas aumentam centenas e até milhares
de vezes o tamanho de insetos, sons aparentemente inaudíveis
chegam ao nosso ouvido. Durante uma chuva, os insetos parecem
estar sendo bombardeados: um pingo dÛágua parece uma pedrada
na cabeça de um grilo.
Por causa desse evidente
tour de force técnico e artístico, Microcosmos atingiu
em cheio a platéia. Na França, foi a maior bilheteria
do inverno do ano passado. Além do difícil reconhecimento
do público, o filme teve uma carreira vitoriosa pelos festivais
internacionais de cinema. Em Cannes, recebeu o prêmio da
Comissão Técnica Superior de Cinema). E ainda ganhou
quatro César (o Oscar francês): trilha sonora, fotografia,
som e montagem.
SERVIÇO
Microcosmos - Fantástica Aventura da Natureza
(Microcosmos, França, 1996). Direção: Claude
Nuridsany e Marie Perrenou.
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